Da Nova Aesthetyca

 DA NOVA AESTHETYCA

 

A Evolução desdobra-se no (e abrange o) Espaço-tempo. A brana onde decorre a nossa experiência existencial expande um hyper-constante multi-senso que reivindica novos focos e mais abrangentes perspectivas; e as novas sínteses exigem parâmetros sempre mais vastos.

Neste dealbar da segunda década do terceiro milénio ouvimos frequentemente falar acerca da necessidade de um novo paradigma; mas, se é um facto que tal necessidade é evidente para o mundo estrutural, para o quotidiano das nossas múltiplas relações, sê-lo-á também para o mundo estruturante - para a Filosofia, para a Arte? Ou, dito de outro modo, como poderemos gerir o mundo arquetípico sem comprometer a História nem trair o Futuro? Mais ainda, qual a fiabilidade do Arquétipo se chegamos à conclusão de que ele próprio é mutante e evolutivo no espaço e no tempo?

Explanei este latu senso  para vos dar uma ideia das questões com que me debatia nos anos 80-90 - a minha chegada è epifania informática. Continuo a pensar que a resposta a estas questões não é uma diletância intelectual - é importante, é fundamental se queremos de facto construir um mundo onde os rumos que trilhamos se não diluam e desvaneçam à medida que avançamos. As teses revolucionárias do século XX foram ultrapassadas pela revolução científica e tecnológica. A explosão mediática transforma-nos, cada vez mais, em cidadãos do Mundo. O espaço-tempo deixou de ser um conceito meramente astrofísico e abrange, cada vez mais, o nosso quotidiano. É urgente uma Nova Filosófica que explique, coordene e dinamize estas transformações rumo a um futuro novo. Porque, se é verdade que a Filosofia surgiu e evoluiu como a ciência dos porquês, é cada vez mais urgente que ela seja também a ciência do 'para quê'. Penso que o objectivo fundamental é, neste momento, a diáspora inter-estelar e inter-galáctica, porque só a sua consecução nos libertará das contingências circunstanciais, permitindo-nos finalmente fruir a Existência.  Penso que toda a nossa evolução planetária beneficiará (como já beneficia) deste rumo. Penso e creio que a Filosofia conseguirá transformar-se no instrumento ágil e eficaz de que necessitamos para enquadrar de um modo superior todo este processo.

Qual o lugar da Arte neste contexto? Deverá a Arte pôr-se ao serviço destes objectivos ou evoluir independentemente, depurando-se a si própria? Nunca gostei das correntes que defendem a subalternização da Arte como uma ferramenta para a divulgação das religiões - e muito menos das ideologias. Isso revolta-me visceralmente e só o concebo como sátira. Mas também não creio nesse conceito nebuloso de arte pela arte; conquanto mais digno, penso que visa mais uma evolução formal do que um objectivo em si. Então, o que é a Arte? Penso que se soubéssemos responder prosaicamente a esta pergunta a Arte não existiria, seria desnecessária. O que faz com que a Arte exista e seja necessária é exactamente o seu carácter, não independente, mas transcendente. A Arte não representa a realidade; transcende a realidade indo buscar ao meta-dimensional - ao pulsional, ao onírico e ao emocional - as nuances que revestem de sentido a realidade objectiva e neutra, reinterpretando-a. Coroando-a. Na Arte, o conteúdo e a forma não só se completam como interpenetram: a forma torna-se conteúdo, o conteúdo reivindica e molda a forma; e todo este processo é regido pelas suas próprias leis evolutivas, é uma expressão de Rigor - ou seja, é ético, define uma Ética.

Eis que fulge essa lente privilegiada que é a Arte! O conteúdo e a forma transformam-se em Ética e Estética. Tal como na Filosofia a evolução do pensamento se constitui como Ética, também esta, na Arte, define a sua própria dialéctica para o mundo exterior e objectivo - a sua Estética. Eis a Razão desta síntese para a evolução: Da Nova Aesthetyca.

 

Favola

1995 foi um ano grande para a Informática. A Microsoft lançou o Windows, a Internet abriu o grande armário da espécie humana, eu comprei o meu primeiro computador e o mundo nunca mais foi o mesmo. Em Portugal, a Revolução de Abril estagnara em 1980 (o ano da bomba de neutrões), atirando-me para o desemprego e para uma cena rupestre de onde só recentemente conseguira  sair dando aulas de Física. O computador surgiu como uma resposta a todas as minhas preces - a minha paixão era mesmo a multimedia - poder produzir conteúdos ao nível de diversas artes e planificar grandes eventos mediáticos. O total show  estava ali à mão, pronto para desembrulhar e servir ao mundo atónito!

Depressa compreendi que o timing para tão necessário estrelato era um pouco mais dilatado que o previsto - as boas ideias tinham de ser amadurecidas, o domínio dos programas exigia uma aprendizagem lenta - e eu estava só. Varri toneladas de software até organizar a minha árvore - foi uma experiência muito enriquecedora mas feita à custa de muitos erros e de muitos crashes. Finalmente a minha laranja mecânica começou a funcionar e comecei a produzir a minha primeira obra da série Da Nova Aesthetyca: Favola, um CD de música electrónica de que publiquei uma edição de autor em 2004. 

 

 Porquê Favola e porquê música electrónica?

O meu percurso musical iniciou-se nos anos 70 como autor-compositor-intérprete de canções de intervenção. Gravei um EP no Porto (Retalhos de Verdade) e mais tarde, em Lisboa, um single de sátiras (Marta a Canção). A sátira tornou-se o meu modo de composição preferido - é alegre, cativante e obriga a um exercício de inteligência profundo. Lamentavelmente, é de difícil divulgação ao nível das editoras comerciais - e era-o particularmente nesse tempo em que a música popular aceite e divulgada em Portugal era o panfleto político imbuído de ortodoxia militante. A miséria não é bonita, a exploração e a opressão são assuntos muito sérios e, nesse tempo, eram muito poucos os que compreendiam que o riso também é uma arma. Por outro lado, eu desenvolvera o meu método de composição para o meu instrumento, a viola e, embora o tivesse aprofundado, debatia-me com a falta de experiência de orquestração para produzir uma obra completa - e também os meus amigos com maiores conhecimentos nesse campo estavam ocupados com assuntos mais sérios. Em suma, há muito tempo compreendera que teria de ser eu próprio a produzir a minha música para a revestir das sonoridades que desejava.

Escrevi e compus imenso nos anos 80 para o meu heterónimo Rafael Bardo. Rafael Bardo é um ser de outra dimensão, um arcanjo poliglota franco-italiano que também canta em português, espanhol e inglês - um polyglon. Chegou a aparecer na RTP-Porto com temas da obra Serenata no Tempo por mim orquestrados; mas o instrumento de que dispunha nessa época (1989) era um micro-Yamaha analógico, delicioso mas bastante limitado. Só quando o meu computador chegou pude estudar a composição mais a fundo. De tudo isto surgiu Favola (a palavra é italiana) e a música electrónica - primeiro como estudo, depois como uma área artística específica.

As origens musicais de Favola remontam às experiências de Walter (Wendy) Carlos e dos precursores do que hoje se designa vulgarmente por rock progressivo ou rock sinfónico. O álbum é composto por 8 faixas:

1. Astroporto (11:26) É uma ode à exploração espacial e divide-se em duas partes: I. Portugal Es Gloria (7:00)
e II. Orby (4:26).

2. Vanessa E (4:13) É um estudo para violino e viola eléctrica dedicado à Vanessa Mae. Aprendi imenso com a Vanessa e ouvi-la estrada fora foi um bálsamo na noite da minha longa marcha.

3. Angels Aqua (3:34) É um estudo para uma cantata sintetizada feito em Angelina (um sintetizador coral da Big Tick). Divide-se em dois andamentos: I. Nora Mundi (2:04), um arranjo experimental; e 2. Aqua (1:30), a cantata propriamente dita. Tudo isto era (e continua a ser) muito novo; existem ainda muitas imperfeições a resolver no domínio das formants para as vocalizações sintetizadas. Mas nesse tempo a VST estava ainda no início e a síntese era feita fundamentalmente através do recurso directo a sound fonts. Todo o álbum está recheado dos clicks característicos deste tipo de síntese e, numa perpectiva purista, Angelina enferma dos mesmos defeitos; mas para mim é uma grande ternura recordar esse percurso e a maravilha que essas possibilidades fantásticas constituiam - é semelhante à utilização actual de pixilações em resolução menor no campo da imagem que recordam o tempo em que 256 cores eram o céu possível para os gráficos de computador. E os que percorreram este caminho sabem aquilo a que me refiro.

4. TeleFoeNe (11:50) Esta é a minha primeira faixa de rock sinfónico; pela primeira vez pude ouvir o meu conjunto... Divide-se em seis andamentos: 1. Overture 2. Starred  3. Forgene  4. Mag  5. Novum Mundum  6. Scondita Luna

5. Favola I (1:30) É uma abertura que nos conduz aos Andes e ao voo do condor.

6. Ytune Machu Picchu (3:37)  Uma faixa étnica que nos recorda as pistas de Nazca. É necessário ter vivido o environment mitológico do início da Era Espacial para compreender as razões da inclusão desta faixa. O software utilizado é um sampler Storm oferecido então como complemento das placas de som Audigy, da Creative... Será preciso mais para explicar este manifesto anti-piracy?

7. Normal Future (2:36) É a faixa mais experimental do álbum - sons de um quotidiano do futuro. Divide-se em duas partes: I. Traffic-Entanglement  II. Ave Stella Gauditur. O segundo andamento é uma oração para a primeira viagem inter-estelar.

8. Favola II (1:18) Favola II é um grande coral robótico para cerimónias astrais, recepções de embaixadas de outras civilizações, orações de sapiência astronómicas e astrofísicas, etc. Estas coisas são sempre necessárias.

Da Edição de Autor de Favola foi vendida uma escassa centena de exemplares. Uma edição on-line passou despercebida. É no entanto possível conseguir um exemplar através do E-Mail Fermanl@hotmail.com.

 

O Escritor de Sons

Decorrem neste momento (Abril de 2011) exactamente sete anos sobre a primeira publicação de Favola - sete anos em que o mundo se transformou e evoluiu rumo ao futuro. A International Space Station está praticamente concluída, a Agência Espacial Europeia deu passos gigantescos na conquista do Espaço, milhares de doenças, entre as quais o cancro, encontraram cura e começam a ser erradicadas. A nova arquitectura produz construções cada vez mais eficientes e arrojadas. Todas as Artes evoluiram. A Internet tornou-se parte do banal quotidiano. A taxa de analfabetismo regrediu em toda a Terra. A Europa está, no seu conjunto, mais forte e mais coesa. E todas estas razões super-estruturais nos animam a enfrentar as crises económicas, ambientais e sociais que inevitavelmente fazem parte de um mundo em transformação.

Para mim foram sete anos de pesquisa e maturação que resultaram nesta obra agora publicada, também em Edição de Autor: O Escritor de Sons.

O Escritor de Sons é, tal como a Favola, um álbum de música electrónica, processada em computador e incluindo alguns apontamentos de guitarra eléctrica e electro-acústica. Comecei a escrevê-lo há um ano, em Março de 2010 - o ficheiro mais antigo data de 3 de Março de 2010. Mas a ideia do trabalho é muito anterior e, à medida que se foi desenvolvendo, acabei por incluir alguns temas orquestrais do Rafael Bardo, o meu heterónimo polyglon. O que começou por ser um projecto de soundscapes (paisagens sonoras) para vídeo e alguns melómanos acabou assim por se transformar num álbum eclético para ouvir, dançar e usar.
 
O álbum dura 69m e 30s. É composto por 9 faixas politemáticas, seis das quais com mais de 8 minutos:

1. Melatryx _ 8:07

2. Not Even You _ 9:03

3. Happy Blips _ 3:45

4. The Tibet Dragon _ 10:05

5. Lisbon By Light _ 6:32

6. Pista Ronnete_Babette _ 10:04

7. TimeStar _ 8:02

8. Young As Your Love _ 2:07

9. Life Wants You _ O Baile dos Cadetes _ 8:10

O Escritor de Sons é um álbum na mesma linha de Favola, mas bastante mais maduro do ponto de vista da composição e orquestração. É também, e simultaneamente, mais ousado e mais abrangente do que o seu predecessor. Todos os temas são originais absolutos e inéditos; alguns incluem, como disse,  versões instrumentais de temas de Rafael Bardo tornados quase irreconhecíveis pela orquestração. Existem notas explicativas que acompanham a edição actual mas que omito aqui para que seja uma surpresa.

Não me cabe a mim, como é evidente, emitir juizos de valor acerca do meu próprio trabalho - vocês o julgarão. Digo-vos apenas que se em 1980 me dessem a ouvir este disco e me dissessem que fora concebido, produzido e realizado por um só indivíduo eu não acreditaria.

Talvez vocês também não creiam - mas isso ficará para a noite das surpresas, de 24 para 25 de Abril, no Desnível bar, em Oliveira de Frades.

Até lá, ouçam a melhor Música do Mundo!

                                                                                                        Um abraço

                                                                                                          Fermanl

 

 

 

 
 

Make a free website with Yola